segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A tale of two cities

Para muitas pessoas não parecerá inevitável, mas para mim a é a comparação entre Paris e Londres. Tal justaposição, que já teve conotação e denotação de briga, é antiga, muito – e de forma muito melhor – já foi escrito e discutido, com pelo próprio Charles Dickens.

No entanto, meto-me na discussão, mais com o intuito de organizar as minhas próprias impressões particulares de mero turista. Comecemos pelas semelhanças. Ambas tem portes semelhantes (cerca de 10 milhões de habitantes). São mais que simples capitais dos respectivos países: são internacionais, globais, mundiais. São hubs logísticos quase equivalentes. Por exemplo, o Heathrow ganha em passageiros, o Charles de Gaulle em cargas; o metrô londrino ganha em extensão, o parisiense em número de estações. São referências em moda e luxo, provavelmente tem os terrenos mais caros do mundo.

Cheguemos às propaladas diferenças. A capital inglesa tem um impacto político econômico um pouco maior enquanto capital francesa ganha no terreno turismo. Se Londres ganha como no quesito “mais capital do mundo”, Paris provavelmente ganha como capital européia no sentido de exercer um maior fascínio nos visitantes do velho continente. Também pudera. É ligeiramente mais bonita. Paris tem um charme, um orgulho próprio diferente de Londres. É mais mignon.

Londres tem em sua vantagem o fato do Império Britânico ter sido maior – aquele no qual o sol nunca se punha – em comparação aos sucessivos impérios e repúblicas francesas. E, obviamente, o fator chave para o maior nível de internacionalização de Londres é a dispersão do inglês como língua franca mundial. Ressalta-se que tal feito tem que ser irmanamento dividido com os EUA. Não fossem os últimos, o inglês e o francês ainda estariam disputando ainda hoje um jogo bastante acirrado por uma liderança apenas simbólica. De fato, não haveria nenhuma língua franca mundial.

E vai por terra o primeiro mito, o de que os franceses não falam inglês. E aqui vai outra semelhança não esperada: a facilidade de comunicação em Paris e em Londres são muito próximas. O turista em Paris com algumas poucas palavrinhas mágicas em Francês, inglês intermediário, cortesia e simpatia não terá grandes dificuldades. Londres obviamente não exige francês, mas ao mesmo tempo decepciona todos aqueles que acreditam arranhar um básico ou até mesmo um intermediário em Inglês. Experimente ter que explicar o seu destino para um taxista em cockney. Nem mesmo americanos conseguem. Na outra mão, o franceses, cumpridos os requisitos formais do bonjour, s´il vous plâit, irão prontamente socorrer o turista perdido em inglês

Em ambas cidades, saindo das zonas turísticas, a língua se torna uma barreira. No final das contas, em ambas capitais, o sucesso do turismo dependerá da capacidade de cortesia e evitar os horários típicos: metrô das 17h às 19h, almoço ao meio dia entre outros, por exemplo. Ambas capitais querem os turistas, mas não querem eles atrapalhando a rotina de seus habitantes.

Feita a consideração sobre as línguas, que leva a um quase empate no quesito comunicações, tratemos das duas famosas diferenças: música e culinária. Aqui cabe dizer que temos que nivelar pelo alto. Mesmo que a música de Londres e culinária de Paris sejam campeões unânimes e inquestionáveis, a música de Paris e a culinária de Londres são também ótimos segundo melhores.

Em resumo, Paris representa a vitória do mundo latino sobre um substrato franco gaulês enquanto Londres representa um mistura indefinida de latinos, celtas, anglos, saxões, indianos e todo resto do mundo. Mesmo que o urbanismo parisiense seja muito mais marcado pela linha reta, em todo resto, vemos um maior nível de passionalidade, que representa um maior grau de incerteza e, portanto, também jazz.

É entendendo essa passionalidade que chegaremos ao que é a culinária francesa: ao entrar em um restaurante, você está entrando no coração do cozinheiro. É possível que seja uma relação pago e recebo. Mas dessa maneira nunca se conseguirá desfrutar do prazer que é um repas francês. É necessário conversar com o garçon, elogiar, perguntar, questionar os pratos, as possibilidades de combinações, a melhor sequência. Londres não tem necessariamente a mesma passionalidade, posto que tão multifacetada o que gera um padrão quase amorfo, um não padrão.

Londres é rock, energia, pub. Paris é jazz, requinte, café. Londres é aquele amigo sempre necessário para encher a cara e ter muita diversão. Paris é uma mulher para se apaixonar por, sofrer, mas não querer viver sem.

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