terça-feira, 27 de setembro de 2011

Expedição ao Centro do Paraná






Que o Brasil é um país novo, continental, cheio de potencialidades, todos já estão cansados de saber. Mas entre saber isso da televisão, de livros, e o conhecer dos grotões não explorados há uma enorme distância. As aulas de história vêm à cabeça: o Brasil ainda está sendo colonizado.

Saindo da região superpopulosa da faixa litorânea do território nacional, começamos encontrar uma vastidão de terras inabitadas. E não falo dos territórios amazônicos. Falo do centro de um estado no sul do Brasil, a mesoregião centro-oeste do Paraná. Ali é possível observar ao vivo e em cores a dinâmica de formação do território

nacional: a entrada da cultura, do capital, da lógica do mundo ocidental em uma imensidão amorfa, dispersa.

A energia do movimento colonizador - ainda que intensa no golpe - é insuficiente para colocar em movimento o gigantismo do interior brasileiro. Essa é uma empreitada que somente os estados nacionais tem condições de empreender e que, de certa maneira, já acontece disfarçada entre ações ainda não bem coordenadas entre Federação, Estados e Municípios. A longo prazo existe um grande potencial econômica, mas que nenhuma empresa capitalista teria condições viabilizar sozinha em poucos anos.

Falemos de maneira mais prática. Essa mesoregião do Paraná, assim como muitas outras regiões brasileira já tem na produção da soja o estado da arte mundial posto em prática. Mas repete os mesmos erros da produção açucareira no século XVI e XVII, da produção cafeeira dos séculos XIX e começo do XX: totalmente integrada com o comércio internacional, totalmente separada do meio social cultural econômico da região em que são produzidas.


Toda essa soja produzida vai crua para fora. A soja não faz parte da culinária nacional, não existem pratos típicos, não é processada aqui. Quando comparamos a cultura do trigo com a da soja, percebemos o quão discrepantes elas são. Aí caberia aos brasileiros perceber que a soja pode ser o trigo do novo milênio, poderíamos desenvolver toda um indústria em cima dele, produzir receitas, fazer cerveja de soja. Isso se ficarmos limitados à soja, mas quantas mais culturas poderíamos desenvolver no vastos campos do interior do Brasil?

Saindo do terreno agrícola, existe o potencial turístico. É um pontecial, mas que está muito longe de ser aproveitado. Foz Iguaçu desvia uma parcela do fluxo turístico brasileiro, mas carece de estar integrado a uma rede: o turista que vai a Foz Iguaçu para ver as cataratas, poderia ser direcionado para o interior do estado. Há belas passaigens, possibilidade de roteiros ecológicos, rallys, hotéis-fazenda, rafting, outros esportes radicais, turismo gastronômico (isso se houvesse culinária típica).

Podíamos ainda falar das enormes quantidades de energia renovável, hidroelétrica, eólica; falar do aquífero guarani...

Tudo isso é o potencial. Poderíamos ser uns EUA em termos econômicos. Mas somos o Brasil porque uma região com o potencial como a Centro-oeste Paranaense é justamente aquela que ostenta um dos piores indicadores sócio-econômicos do Sul, compatível com as regiões pobres de todo resto do Brasil. Tudo está para ser feito lá, não há escolas, não há população, o estado brasileiro começa a atingir essa região apenas nas últimas décadas. Há um vasta planalto a ser desbravado, a ser colonizado.

O Brasil pode ser o país do futuro. Com muita imaginação dá para imaginar um país, uma potência do hemisfério sul. Mas para transformar a atual realidade nessas quimeras engendradas pela imaginação há a necessidade de uma dose gigante de trabalho, energia. Coisa que um século de trabalho intenso talvez resolvam.

Não adianta apressar o passo, como alguns políticos querem fazer. O que precisamos é de projetos estratégicos de longo prazo para o Brasil. Uma passo por vez, de maneira sustentada, construindo uma instituição por vez, de maneira organizada. Hoje em dia temos o dinheiro público despejado de maneira atabalhoada por essas regiões. O acerto dessas políticas está em reconhecer a necessidade de se investir no interior do Brasil. O erro está na estratégia de espalhar os recursos sem ordenamento, sem nenhuma lógica de estado. Essa estratégia segue a velha lógica da colonização portguesa “em se plantando, tudo se colhe”. Mentira. O que essa política produziu foram séculos de subdesenvolvimento do Brasil.

O dia que começarmos a pensarmos um pouco mais a longo prazo, arrumar os erros estruturais brasileiros com seriedade (educação, transportes, violência, sistema jurídico), daí sim estaremos criando as condições de crescimento de longo prazo. Só assim poderemos ser de fato essa potência do hemisfério Sul de que falam alguns presidentes, the economists da vida e outros. Sejamos realistas.

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sábado, 10 de setembro de 2011

Os céus de Curitiba

Tá no Brasil, mas não é bem Brasil e não é bem assim Europa. O fato é que o céu pode ser qualquer coisa de britânico às vezes. Proporcionou ontem um espetáculo de cores em diversos atos. O dia começou conturbado. Não sabia se chovia fino, garoa fria, ou se chovia forte, gotas gordas. Mas provavelmente ficou num nublado indeciso. Na tarde, foi absoluto: foi cinza.

Então veio o céu do final de tarde como uma surpresa para todo sul do Brasil. Um vermelho aroseado que talvez só Van Gogh soubesse pintar.

Acompanhado de músicas veio a noite. Dela se fez o que se devia e se cabia, pouco do que se sabia mas um tanto do que se podia. A luz amarela dos postes, quase um vermelho gasoso, com a neblina branca fez o habitual laranja da noite Curitibana.

Na madrugada a neblina venceu. Dominou não só o céu, como desceu à terra. E o resultado foi uma imersão em algodão. Um branco que a tudo engolia, escondia os mais altos pinheiros, disfarçava os robustos prédios e os seres erráticos confundia. Mais forte que a fog londrina ou que as brumas de Avalon.

Depois de tudo isso, veio um outro tipo de vermelho, o da aurora, com tons profundos de marrom. Prenúncio de um novo dia, esse azul, mais ao gosto brasileiro.