Desde o meu ingresso no IFPR, em agosto de 2010, a incompreensão, a impotência e a angústia, foram os mais fiéis companheiros de trabalho. Na minha carreira profissional/acadêmica sempre valorizei a competência, o trabalho duro e a crença de que sempre podemos e devemos fazer melhor. Desde o começo tentei fazer o meu melhor aqui, mas as dificuldades foram muitas. Não sei se era simplesmente ignorado, não ouvido. Mas sei que da falta de um diálogo razoável resultou o sentimento de incompreensão.
A impotência foi constatada quase que concomitantemente. É normal as pessoas terem concepções diferentes. Calculei eu que, vendo os resultados do meu trabalho, um diálogo, em bases mais elevadas, poderia surgir. Foi quando percebi a ausência de meios e poderes para agir. Impotência. Privado do diálogo e do trabalho – elementos básicos do ser na condição humana – adveio, então, a angústia. A solidão na multidão.
De certa maneira, pode-se dizer que a campanha eleitoral começou em janeiro. A gestão, depois de um rápido concílio, já anunciava quem seria o seu candidato a reitor. E eu, ali naquela prisão insular de trabalho, não dei muito importância. Estava mais preocupado com minha angústia. Veio então uma voz insurgente, praticamente um grito sufocado. Não gosto da imagem por deveras piegas, mas esse grito reascendeu as esperanças.
Aos poucos, fui percebendo que mais pessoas estavam na mesma situação minha. A incompreensão foi desaparecendo. Havia colegas para conversar, para o diálogo. Então voltei a trabalhar e poder expressar meus pontos de vistas. Em um desses pontos de vista, apresento um ABC analisando a presente gestão do IFPR.
E já me adianto. Não é imparcial. É totalmente parcial. Afinal, a política é o campo em que a opinião engendra a ação subjetiva e, a última, tem reflexos coletivos. Quem não concordar, convido com intuito de esmiuçar ponto a ponto. A política também é arte de estabelecer consensos.
A – Autoritarismo
No autoritarismo, os superiores não ouvem os inferiores e centralizam as decisões e as informações. Os de cima determinam e os de baixo apenas executam. Brinca-se que no IFPR há os pensadores e a há os executores. O autoritarismo é sempre um movimento de anulação da individualidade dos inferiores. No fundo, sempre há uma fraqueza (moral, intelectual, técnica) dos superiores autoritários, os quais lançam mão de um poder externo para sustentar a relação de dominação. Superiores não autoritários são aqueles que conseguem a convergência voluntária e consciente dos inferiores. Os últimos não se vêem anulados, mas sim complementados, inseridos em uma lógica superior.
B – Burocracia
O IFPR está muito longe do ideal de uma organização burocrática. Weber definia a burocracia como a forma de poder em que a racionalidade (a técnica) impera e justamete por isso, ela seria a mais indicada para a gestão da coisa pública. Decisões balizadas pela racionalidade, embasadas em dados, estudos científicos são ainda um sonho no IFPR. Isso dá dimensão do nosso atraso, pois não conseguimos nem mesmo aplicar um modelo de organização que já está superado. Isso quando deveríamos nascer já como uma instituição modelo para o século XXI.
C – Comunicação
Os bancos da faculdade de jornalismo ensinaram-me que comunicar é tornar algo comum. Nas organizações, a comunicação tem dois momentos, um interno e outro externo. Para a análise interna da comunicação, ver os verbetes Transparência e Zumbidos. Externamente, o IFPR tem um deficiência grave comunicativa. Para constatar tal deficiência, precisamos simplesmente sair perguntando para as pessoas na rua quem sabe o que é o IFPR. Não vale conhecer a UFPR, UTFPR. Afinal, somos ou não a mesma coisa?
D – Democracia
A arte de criticar não é exercida em nenhuma âmbito do instituto. Definitivamente a democracia não é um sistema fácil de aplicar. Exige pessoas extremamentes conscientes, comprometidas e que respeitem a opinião alheia. Mas sem nenhuma dúvida, é ainda o melhor sistema de poder que humanidade já produziu. Alguém precisa avisar a presente gestão dessa novidade administrativa inventada por uns gregos aí.
E – Expansão
Feita de maneira desorganizada, não planejada e sem nenhum compromisso com a qualidade. Onde está a previsão de chegar a 15 campi no PDI? Mas dá para entender o sentido que a gestão vê nessa expansão. Ela atende à lógica do governo fazer estatísticas sobre a educação. E como a gestão está umbilicalmente ligada com pessoas passageiras no governo (e não necessariamente com Estado brasileiro), não questiona essas políticas, pois do contrário alguém poderia perder alguma boquinha no governo. Onde está o nosso ex-reitor? Onde estavam os candidatos a reitor antes?
F – Fisiologismo
Um dos mais graves problemas da administração pública brasileira tem um capítulo especial no IFPR. As escolhas aqui parecem ser feitas em base de relações pessoais, em interesses particulares, tudo no famoso tomacádálá.
G – Globalização
A presente gestão simplesmente parece que não vive no século XXI. O IFPR está à margem de qualquer parâmetro internacional de educação. Quantos alunos, professores, técnicos nossos estão no exterior? Quantos estrangeiros recebemos por ano?
H – Hipopotismo
O Fenômeno terminou a carreira em parte pelo problema de hipotiroidismo. Recebeu até mesmo uma maldosa alcunha de Gordômeno. Estava muito “grande” para poder executar seus movimentos com qualidade. Qualquer semelhança com o IFPR, é uma mera coincidência.
I – Incompetência
A incompetência advém como resultado da aplicação de certos valores (letras A, F, P, X) e pela ausência de outros (B, C, D, G, K, L, M, Q, T, U, V)
J – Justiça
Esse não é um valor que deve ser exclusivo do poder judiciário. A senso de justiça é um dos principais fatores que estão ligado ao bom desempenho e à motivação de funcionários. As regras devem ser claras para as punições e para as premiações. Se alguns se dão bem sem motivos claros para isso, não temos justiça e, portanto, temos um fator de desmotivação e improdutividade.
K – Know/how
A expressão inglesa traz dois dos três elementos necessários para a competência, definida como a junção dos saberes teóricos, práticos e das atitudes do indivíduo (conhecimentos, habilidades e atitudes). Nenhum deles sozinho é suficiente para termos a competência. Know/how, sem um compromisso ético por exemplo, é incompleto e pode ser tão ou mais perigoso para a vida organizacional quanto indivíduos com atitudes corretas mas com carências nos outros saberes. Pensemos: que tipo de gestão por competência temos no IFPR? Os professores ministram aulas nas suas áreas de competência, os gestores são escolhidos dentro do seus meios de atuação?
L – Liderança
É o problema mais grave da presente gestão, em todos os níveis organizacionais. O IFPR vive uma verdadeira crise generalizada de liderança, justamente em uma fase crítica de sua vida, em que a cultura organizacional ainda está em processo de consolidação. Nesse momento, as lideranças têm uma influência muito maior do que teriam em organizações já maduras. Daí a importância capital desse processo de eleição. Ainda é tempo de corrigir o rumo que o instituto tem tomado. É necessário uma mudança forte para iniciar a consolidação de uma nova cultura, da excelência do ensino, da qualidade, da competência. Ainda temos a chance de criar uma instituição do século XXI. No entanto, se o reitor eleito reforçar a cultura organizacional em voga, o IFPR estará entrando um círculo vicioso: lideranças sendo criadas dentro de uma cultura não de resultados e que posteriormente a reforçam. A cultura organizacional depois de consolidada é difícil mudança. Uma decisão errada nessa fase delicada da vida institucional irá ter graves consequências, pois poderemos perder a oportunidade histórica de criar uma instituição referência, com uma gestão do século XXI.
M – motivação
Para que motivar se é mais fácil mandar?
N – Natureza
Parece que a consciência de todos fica satisfeita somente com a criação de um curso de agroecologia. Isso seria suficiente. Todos os outros setores poderíam imprimir folhas à vontade, por exemplo. Nossos prédios (quer dizer, alguns não são bem nossos posto que alugados) tem projetos sustentáveis de reaproveitamento de água, economia energética? Que exemplos passamos para nossos alunos nessa área?
O – Organização
Bom senso é o melhor guia para a organização. Não é necessária nenhuma faculdade de administração para conhecê-la e praticâ-la. Portanto, qualquer pessoa pode dizer se o IFPR é ou não organizado.
P – Personalismo
Diz a lei que o IFPR deveria ser algo público, impessoal. Mas quando há setores que só podem ser designados pela pessoa que o ocupa, algo anda no mínimo mal. Isso sem falar na relação quase paternal (ou seria patriarcal) que muitos tem com o IFPR. Os historiadores podem dizer melhor do que eu em que período encontramos ótimos exemplos desse tipo de relação na gestão pública.
Q – Qualidade
Eis aí uma palavrinha que dá pano para manga. Mas ao contrário do que vemos no senso comum, é possível sim discutir qualidade em bases minimamente científica, sem confundir qualidade de gestão com gosto particular. Qualidade na gestão é padronização de serviços, pesquisa das melhores práticas em um setor específico (o famoso benchmarking), elaboração de índices. Na educação, qualidade quer dizer formar cidadões e profissionais críticos, participativos, competentes.
R – Rabo preso
Eu não tenho. Você tem?
S – Sucessão
Alguém acredita que com toda alta cúpula apoiando um determinado candidato, haverá as mudanças que são urgentes para o IFPR? Como falava no verbete sobre liderança, é muito difícil que um candidato lançado no seio da cúpula da atual gestão possa representar mudança. É um contrasenso, para não dizer uma ofensa a inteligência das pessoas. A atual cultura organizacional só existe porque existiram lideranças que até o momento assim a alimentaram.
T – Transparência
Ha mais coisas entre a cúpula da reitoria e o chão de fábrica dos campi que sonha nossa vã filosofia.
U – Unidade
Já havia tocado no assunto em artigo anterior nesse blog. Uma das consequências da falta de planejamento é a dispersão de ações. A falta de unidade. Só não confundamos a unidade fruto do consenso democrático com aquele imposta pela força.
V – Visão
Como fruto do autoritarismo, como falta de planejamento bem feito, nínguem sabe extamente o que somos e para onde iremos. A presente gestão carrega ainda os valores da escola técnica, raciocínia como um órgão intermediário. Não consegue pensar com a audácia que se espera de um órgão federal diretamente relacionado com o desenvolvimento de uma economia que pretende estar entre as quintas maiores em cinquenta anos. Estamos preparados para esse desafio?
W – 5W2H
Uma metodologiazinha de planejamento básica, mas que se fosse aplicada em todas atividades e ações do IFPR já faria uma diferença brutal. Trata-se de se fazer as seguintes perguntas para tudo o que formos fazer: o que? quem? O que? Como? Porque? Quando? Quanto? Ah, isso serve também ajuda na hora de escrever o lead do texto jornalístico.
X – Xenofobia
É o medo do que vem de fora, em oposição ao cosmopolitismo. Estamos mais próximos de qual dos dois extremos?
Y – Yes, sir.
Só para lembrá-los que aqui uns mandam, outros obedecem. (Confesso que não me veio à cabeça nenhum termo melhor)
Z - Zumbidos
É um modo de comunicação muito popular aqui no IFPR.