domingo, 7 de fevereiro de 2010

A morte

Passei essas duas semanas tentando entender a diferenca entre o Brasil e a Europa, Inglaterra mais precisamente. Nao eh nem tanto a diferenca de idade, mas ao que essa diferenca resulta. A diferenca essencial parece ser como a morte eh encarada aqui na Europa em contraposicao ao modo brasileiro. Bem da verdade, pouco se reflete sobre a morte no Brasil. Foge-se do assunto exatamente por ser tachado como macabro, estranho. Gente feliz, de bem, nao fala sobre o assunto.

Grande equivoco. Refletir sobre ela afeta diferetamente como vivemos a vida. E na Europa, querendo ou nao, as pessoas sao obrigados a conviver e a refletir sobre a Indesejada. Peguemos o exemplo de Londres. Com mais de 2000 anos de existencia, essa cidade ja viu desgraca a dar com o pau. Comecou praticamete como um acampamento militar Romano e, desde sempre, muralhas eram necessarias pois a guerra e, portanto, a morte sempre estavam a espreita.

Depois foram todos tipos de conquistadores, Vikings, Dinamarqueses, Saxoes, Normandos. No final da idade media, quando se estabelecia como reino independente, veio a Peste Negra e matou dois tercos da populacao de Londres. Em 1666, depois de 10 anos de guerra civil, com quase 100 mil mortos na Inglaterra, veio o grande incendio de Londres. A cidade foi quase que completadamente destruida por cinco dias de fogos incontrolaveis. No seculo XX, teve a I e II Guerra, com a ultima afetando diretamente o dia-dia dos londrinos. Sim, porque a qualquer momento um V-2, os foguetes supersonicos alemaes, podiam explodir algum quarteirao da cidade do nada.

No Brasil, em compensacao, qual a nossa maior tragedia nacional? Perder para o Uruguai no Maracana em 1950? Nao quero fazer apologia a morte e a desgraca, mas isso realmente muda as pessoas. Pode ser coincidencia ou nao, mas a melhor coisa que o Brasil ofereceu ao mundo, por enquanto, eh o nosso futebol.

E como nao pensamos na morte, nao nos preparamos para ela. No Brasil, a morte sempre vem como tragedia particular e como esquecimento publico. So ver como tratamos nossos artistas mais talentosos, nossos cientistas, nossos esportistas. Nao temos herois praticamente. Isso muda como as pessoas podem se dedicar aos seus oficios. Na Europa, o seu trabalho em vida eh a maneira de se buscar alguma tipo de imortalidade. Os musicos podem se dedicar a compor a sua obra-prima, os soldados vao para guerra sabendo que o ato de heroismo nao sera totalmente em vao.

No brasil, nao. Nossa melhor estrategia para driblar a morte foi ate o momento a mesma de qualquer especie animal ameacada: reproducao em massa para ver se parcela da prole consegue sobreviver ao menos. Sou otimista, no entanto, pois acho que nos proximos anos isso va, aos poucos, mudando. Lentamente, vamos criando nossos santos, nossos genios, nossos herois nacionais.

Claro, que isso demora alguns seculos. Podemos e devemos aprender com os que vieram antes, pois seria ridiculo querer comecar do zero. Mas nao da para fazer 50 anos em 5, nao. Muito menos fazer 2000 anos em 10.

Um comentário:

  1. Aê André, tudo bem?

    Cara, bem legal o seu texto. Tá bem explicado, objetivo e sem aquelas embromações que 'justificam' possíveis duplas interpretações. De qualquer maneira eu gostaria acrescentar algumas coisas.

    A Inglaterra tem o tamanho de alguns dos estados brasileiros enquanto o Brasil tem quase o tamanho de um continente ou pelo menos metade de um. A própria cultura do Brasil é bem diferente entre sul, centro e norte. Já na Inglaterra, apesar de também ter certos regionalismos, não são tão contrastantes como no Brasil.

    OK, sem generalizações não há análise. Mas essas culturas diferentes dos mil 'Brasils' encaram a morte de forma diferente, sejam os espíritas da Amazônia, os católicos do sul ou umbandistas do nordeste. Todas essas religiões são maneiras de encarar a morte e a maioria das religiões falam a mesma coisa de forma diferente.

    Todos temos formas de encarar a morte e nenhuma é 100% amigável. Mas o ponto comum não é esse. O ponto comum é que, tanto nós brasileiros quanto os ingleses, cansamos de pensar, ignoramos tudo isso e vamos para o estádio assistir o futebol.


    Falou, man. Chutes.

    ResponderExcluir